Proposta pedagógica 1
Natasha Felix é uma performer da palavra, tendo ao longo de sua trajetória transitado por várias linguagens, como teatro, música e dança.
Logo no início de sua disseminação poética experimentou durante um bom tempo a linguagem do fanzine artesanal, promovendo assim o encontro entre as artes visuais e a literatura. Que tal desbravar esse universo?
Selecione previamente três poemas de Natasha Felix e ofereça aos alunos como sugestão para a produção de fanzines. Se achar mais interessante dividi-los em grupos, fique à vontade, somente como sugestão acredito que grupos menores serão mais assertivos para esta atividade (no máximo três pessoas).
Segue um vídeo tutorial muito interessante sobre a confecção de fanzines artesanais:
Criando uma ZINE! passo a passo | colagem e técnica mista
https://youtu.be/Vvpdn9qFDsU?si=-pvbKVCv6iLnRpBd
Um momento de compartilhamento dos zines pode ser bem interessante para a turma, já que o mesmo poema servirá de inspiração para vários projetos.
Proposta pedagógica 3
Na praça may ayim
porque temos medo cerramos as próprias
mãos porque temos medo arrancamos
os molares porque temos medo
martelamos os joelhos porque
temos medo botamos fogo nos nossos
cabelos porque temos medo atiramos os
ossinhos do tornozelo no canal porque
temos medo os dedos quebrados são justos
porque temos medo cortamos línguas
unhas orelhas, o caminho.
tiramos raspas de pele dos cotovelos
testamos a faca na jugular
plantamos uma granada debaixo da cama enfiamos
a arma do crime no queixo
porque temos medo.
cortamos a energia desligamos os resistores
porque temos medo o sol se deita
amanhã e depois porque temos medo
temos ferramentas temos o que cerrar arrancar
martelar temos o que incendiar o que jogar
fora o que cortar porque temos medo
sabemos cuspir enganar trair porque temos medo
porque temos medo
dormimos tranquilas.
porque temos medo
somos também muito elegantes, muito obrigada.
Coletivamente e em voz alta, leiam o poema acima algumas vezes seguidas.
Sem nenhuma conversa prévia, divida a turma em grupos de 5 a 6 alunos e proponha a criação de uma cena estática, onde as “estátuas” criadas componham uma narrativa visual de algum trecho do poema ou que represente seu entendimento.
Na sequência os grupos compartilham sua produção com os demais, comentando as estátuas uma a uma, imediatamente após a apresentação. Importante: não deve haver diálogos em cena!
Agora é juntar todas as imagens em sequência, pensando em qual seria a melhor ordem para tal, bem como a transição entre elas (como montar e desmontar cada imagem e como conectá-la ou desconectá-la das demais).
Para finalizar, escolham uma música instrumental que sirva de fundo para a sequência de movimentos. E, se possível, que um ou dois alunos recitem o poema utilizando microfone, sobrepondo a música, enquanto todo o restante acontece.
Proposta pedagógica 2
Coloque os alunos em contato com o vídeo abaixo, no qual Natasha Felix performa na FLIP 2023 - Feira Literária Internacional de Paraty:
performance 4 | apupú – onde os corpos vibram, Natasha Felix e DJ Joss Dee
https://www.youtube.com/live/ouhSoKGhxas?si=RlsHqj5gYqMmbs00
Nesta performance se estabelece um jogo no qual o poema falado habita a pista de dança e passa a fazer parte do set do DJ Joss Dee. Para isso, a artista recorre às memórias de sua viagem para Luanda, trazendo poemas que investigam as relações entre o corpo negro e os retornos impossíveis, a noção de fuga criativa e a vitalidade.
A partir de aplicativos gratuitos para edição de som, proponha aos alunos que desenvolvam projetos similares ao apresentado na performance citada. Os poemas podem ser da autoria de Natasha ou inspirados em sua obra. Oriente o trabalho em grupos, ajude-os a definir funções para que de fato todos consigam se envolver no projeto.
natasha
felix
Baú de ideias
Proposta pedagógica 4
Marista
os alunos do ensino fundamental II raspam meu cabelo
com a maquininha elétrica roubada do pai de um deles
especialmente para mim.
muito brancos e limpos
os alunos do ensino fundamental II raspam meu cabelo
no pátio principal
entre imensos arbustos
eles riem bastante.
os alunos do ensino fundamental II raspam meu cabelo.
não movo um músculo
fico bem quietinha
de mim, nenhum ruído.
me limito a encolher os ombros dentro dos ombros
numa dança.
conto os dedos das mãos
para ter certeza.
o som de vespeiro
faz meus dois olhos ruins permanecerem atentos
pelos próximos 15 minutos e durante os anos que seguissem
adiante.
penso
algo deve acontecer.
espero
darem o trabalho por concluído.
os alunos do ensino fundamental II,
esses excelentíssimos filhos.
Do que se trata o poema acima? Acham que isso pode ser verídico? Já viram ou ouviram alguma história parecida? O que você sente ao ler este poema ou a lembrar dessas histórias?
Na sequência, transmita o vídeo abaixo. Ele faz parte de uma campanha publicitária do projeto “Criança Esperança”:
Ninguém nasce racista. Continue criança - Criança esperança
https://redeglobo.globo.com/video/ninguem-nasce-racista-continue-crianca-5136931.ghtml
Agora sim, munidos de algumas referências pessoais, literárias e documentais sobre o assunto, convide os alunos a construir poemas tendo esta temática como inspiração.